20 julho 2015

Em trânsito

Sou uma utilizadora assídua dos transportes públicos e passo diariamente umas boas horas em viagem. Na maior parte do tempo, faço a viagem a olhar pela janela e a pensar na morte da bezerra; à custa disso já cheguei a falhar a minha paragem algumas vezes, tal é a minha abstracção. Outras vezes, fico a observar os restantes passageiros. Algumas caras já são minhas conhecidas, de pessoas que têm a mesma rotina que eu, e mesmo sem nunca termos falado já sei os seus nomes, as suas paragens e até mais qualquer coisa. E quando alguma dessas caras falta, apercebo-me disso e questiono-me o que se passará com ela. Volta e meia aparecem uns espécimenes raros que me chamam a atenção pela negativa. 

Há os que gostam de partilhar a sua música com todos os passageiros, munidos do seu telemóvel. Infelizmente, são raras as vezes em que partilho o gosto musical com estas personagens. Há os que gostam de pôr os pés em cima dos assentos. A esses, gostava que um dia o único lugar sentado disponível fosse o assento onde um agricultor descansou as pernas e pousou as botas cheias de terra e estrume; talvez assim percebessem a importância de não colocar os pés nos assentos. Há também os que gostam de discutir no autocarro e tornar do conhecimento público os seus dramas pessoais. Há quem simplesmente converse num tom de voz excessivamente alto para o ambiente em que se está, criando condições para a intromissão ou bisbilhotice por parte dos restantes passageiros. 

No entanto, os espécimenes que mais me causam arrepios são os que vão para o autocarro cortar as unhas. Não consigo entender como podem achar que aquele é o local indicado para tal tarefa! Bem sei que as viagens de autocarro são demasiado longas e aborrecidas; compreendo que o tempo despendido em viagem poderia ser muito mais bem aplicado noutras actividades; compreendo até que ter as unhas grandes possa causar desconforto, mas isso não justifica que se as corte no autocarro! Vai uma pessoa, descontraidamente, no autocarro e de repente é agredida no olho por um pedaço de unha que salta do vizinho do lado! Pedaços de unha são disparados para todas as direcções, umas alojando-se no cabelo de quem está sentado à frente, outras caindo sobre o colo de quem está ao lado. Felizmente, nunca tive o infortúnio de me sentar junto a uma ave rara destas, senão ficaria de queixo caído a olhar para ela e corria o risco de levar com um pedaço de unha na boca! Desenganem-se se pensaram que este é um comportamento exclusivo das mulheres, vítimas da sua vaidade. Não, já vi vários homens a cortar as unhas no autocarro. 

Há pouco tempo li no Facebook um queixume do Rui Zink a respeito das pessoas que bocejam sem colocar a mão à frente da boca. Imediatamente identifiquei-me com o texto, pois debato-me com o mesmo problema. A vida em sociedade nem sempre é fácil, às vezes vemo-nos obrigados a suportar muita coisa desagradável para bem da convivência e porque somos civilizados. Ora, colocar a mão à frente da boca quando se boceja é um gesto tão simples que não percebo porque tantos se recusam a adoptá-lo. Tal como não percebo como alguém supostamente civilizado corta as unhas no autocarro! Talvez esses indivíduos ficassem mais bem inseridos numa população de macacos, onde a civilização ainda não chegou e até catam-se uns aos outros, logo não se incomodarão com os pedaços de unha alheios.

18 março 2015

Aceitam-se sugestões

Quem me dera ser uma pessoa mais criativa! Neste momento, o que não me falta é tempo livre à espera de ser ocupado de forma mais produtiva. O que me falta são a criatividade e uma pitada de motivação. Aceito sugestões.